segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Display de Tié-preto

Tié-preto (Tachyphonus coronatus)


Essa foto é muito legal, show de bola.
O macho se mostra assim na exibição pra fêmea, mas já vi um fazendo isso na presença de outro macho (uma tentativa de intimidação?). Note, todavia, que o branco que se vê não é o branco da parte de baixo das asas. Esse é o branco das penas escapulares, as quais são mantidas "escondidas" pelo bicho. Só nessas ocasiões ele "abaixa" a asa e desloca levemente as penas pretas vizinhas (do dorso) para tornar o branco visível. É parecido com o que se vê em muitos tamnofilídeos, com a diferença que a mancha branca dos papa-formigas é nas costas (interescapular), portanto justamente entre as regiões que no tié-preto são brancas.

Vítor Piacentini (via email)

Mãos que Tocam a Alma da Humanidade





Almir Surui, nosso anfitrião, está sob a proteção da Força Nacional. Talvez isso aconteça porque Almir já visitou 33 países representando seu povo; ou por ter sido escolhido uma das cem lideranças mais criativas do mundo; ou ainda  porque esteve nos EUA e fez uma parceria “impossível” com o Google Earth para evidenciar e tentar impedir as invasões na Terra Indígena Surui.

Chegamos na Aldeia La Petanha através do Guarim Liberato e Ivaneide da Kanindé, no dia em que estavam elegendo a nova diretoria da Associação Metareilá (Vespa, em português). Numa grande oca, clãs vizinhos e representantes de Mato Grosso falavam baixinho, entre pausas, sem pressa, dando vez aos mais velhos, com respeito, admiração e muito bom humor. Entre as conversas, em seu idioma, irrompiam gargalhadas que Almir logo atalhava em nossa direção: pode rir que a piada é boa!

Na manhã seguinte apresentamos a sétima Roda de Passarinho da Expedição Amazônia na escola da Aldeia. O ápice da Roda ficou com as flautas de bambu que, mesmo após a atividade, foram tocadas até o anoitecer. Os Surui conhecem o poder das flautas para invocar os espíritos da floresta.
Neste mesmo dia apresentamos o pião que trouxemos da tribo Waimiri Atroari de Roraima. Ninguém conhecia. De um canto apareceu um senhor chamado Tupy que girou o pião várias vezes e tão bem que o pessoal aplaudiu entusiasmado. Tudo virou festa.

Nossa Expedição Amazônia chegava ao final. Depois de mais de dois meses fora de casa, a saudade apertando, a lembrança do canyon, da nossa casa, do nosso chão. E quem tem chão, sabe o tudo que se faz e se quer por ele.

Próxima parada: Poconé, Mato Grosso e depois Porto Jofre pela Transpantaneira, onde tivemos o prazer de reencontrar o mestre Dalci Oliveira que nos levou à Chapada dos Guimarães, na casa do fotógrafo Márcio Trevisan.

Novamente no Pantanal, percorremos a BR419 até Aquidauana. Dali fomos para a Fundação Neotrópica levando posters das Aves do Pantanal para Marja Milano, que serão distribuidos nas escolas de Bonito e projetos da Neotrópica.


Sétima e última Roda de Passarinho da Expedição Amazônia. Foto Gabriela Giovanka

Exercícios na Roda de Passarinho alegram a gurizada. Foto Renato Rizzaro

Esta kena, feita em homenagem a Tom Jobim foi apreciada pelos Surui. Foto Renato Rizzaro

É bonito ver a miscigenação entre os Surui. Foto Renato Rizzaro

Tirivas da Reserva foram morar com nosso amiguinho Surui. Foto Renato Rizzaro

Gabriela e as Aves do Pantanal, agora nas mãos dos Surui. Foto Renato Rizzaro

Alunos mostram seus pássaros para o futuro. Foto Renato Rizzaro

Tocamos até o entardecer embalados pelo ritmo que está no sangue dos Surui. Foto Renato Rizzaro

Itamira, Raimundo e Gasodá Suruí com as Aves da Reserva Rio das Furnas. Foto Renato Rizzaro

Eleição movimentou vários clãs e foi registrada. Foto Renato Rizzaro

Kena tocada durante a reunião. Foto Renato Rizzaro

Local da reunião na Aldeia Lapetanha. Foto Renato Rizzaro

Lua cheia marcou nossa passagem pela Aldeia Surui. Foto Renato Rizzaro

Interior de uma maloca Surui. Foto Renato Rizzaro

Pilão no interior da maloca. Foto Renato Rizzaro

Cerâmica, ritual para os Surui. Foto Gabriela Giovanka

Algodão e cores naturais para a elaboração dos belíssimos colares. Foto Renato Rizzaro

Lagarta. Foto Renato Rizzaro

Mico (espécie?) na Aldeia Lapetanha. Foto Renato Rizzaro

Mestre Dalci em atividade na Transpantaneira. Foto Renato Rizzaro

Gavião-belo (Busarellus nigricollis). Foto Renato Rizzaro

Freirinha (Arundinicola leucocephala). Foto Renato Rizzaro

Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) com seu olhar de peixe-morto-sedutor. :-) Foto Renato Rizzaro

Cavalaria (Paroaria capitata) refresca-se após a chuva na Transpantaneira. Foto Renato Rizzaro

Bugios (Alouatta caraya) ao lado da Tokynha. Foto Renato Rizzaro

Parada onde vimos Graxaim e familia de Bugios. Foto Renato Rizzaro

Graxaim (Cerdocyon thous) dorme ao lado da Tokynha na Transpantaneira. Foto Renato Rizzaro

Belvedere na Chapada dos Guimarães. Foto Renato Rizzaro


Agradecimentos

Alan Souza (Santa Fé do Sul)
Aleixo Sapateiro e familia (Humaitá)
Almir Surui e familia (Cacoal)
Ana Cavalcante (Wikiaves)
Anselmo d'Afonseca (Manaus)
Antonio do Boto e toda a vila de Igapó-açu
Beato e familia, JA Auto Peças (Itaituba)
Beatriz de Aquino Ribeiro Lisboa - ICMBio (Boa Vista)
Chicoepab e equipe da Associação Metareilá (Cacoal)
Cocó e família Rotta (Nova Xavantina)
Christian Andretti (Wikiaves)
Dalci M M de Oliveira e familia (Cuiabá)
Dona Maria, Seu João e Ismael (BR319 - km300)
Ebenézer Souza Soares (Tibagi)
Edson Endrigo
Edson Varga Lopes e Annelyse (Alter do Chão)
Esmeralda e Comunidade da Vila Rayol (Itaituba)
Fabiano Oliveira (Chapada dos Guimarães)
Fábio Menezes de Carvalho (FLONA Tapajós)
Flavio Kruger (SPVS)
Gerson e Neide (Careiro)
Gil Serique (Alter do Chão)
Gilberto Nascimento e Enoc (PARNA Amazonas)
Guarim Liberato e familia (Brasilia)
Gadelha, o guia (Presidente Figueiredo)
ICMBio Boa Vista
ICMBio Itaituba
Ingrid Macedo (Wikiaves)
Ivaneide Bandeira Cardozo - Associação Kanindé (Porto Velho)
Izan Peterlle (Chapada dos Guimarães)
Jarbas Mattos (Wikiaves)
Juliane Tavares (Presidente Figueiredo)
Manoel Vicenti da Costa e familia (BR174 - km76)
Márcio Trevisan e familia (Chapada dos Guimarães)
Margi Moss (Brasilia)
Marja Milano, Ciça, Anne e equipe Fundação Neotrópica (Bonito)
Maurinho do Roncador
Milton Paula (Tocantins)
Nereu Surui (Professor da Escola Surui)
Nicolaas e familia - RPPN Sonho Meu (Canion Guartelá)
Pompeo Fotografias (São Paulo)
Renato Gama (Ilha de Santa Catarina)
Roberto Percinoto (Rio de Janeiro)
Robson Czaban (Manaus)
Santana (PM de Manaus)
Seu Paulo e Dona Graça (BR319 - Rio Novo)
SPVS - Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental
Thiago Laranjeiras, Bia, Seu Iran, Branco e equipe (PARNA Viruá)
Thop Midia - Produção agência de notícias (Alta Floresta)
Vítor Piacentini (USP)
Vitoria Riva e equipe Cristalino (Alta Floresta)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Igapó-açu com o coração na mão

Seu Antonio: fala mansa, de quem gosta de longas histórias. Foto: Renato Rizzaro


Seu Antonio do Boto fez questão de levar a gente lá pro meio da várzea, num fim de tarde luminoso de outubro de 2012, longe do agito da vila, e nos presenteou com um pedaço do seu coração. Precisava falar com quem prestasse atenção em suas palavras singelas, transbordantes de carinho com animais, plantas e sua Natureza, enfim. Contou um pouco da vida, da paixão pelos bichos e das conversas com o boto-rosa.

Tem a fala mansa, de quem gosta das longas histórias, profundas e bem contadas, como as que ouvimos dos índios. Tem paciência para a pausa, tal como quem faz boa música e paciência para a pesca, de onde vem a comida para sua família, uma grande família!

Paciência Igapó-açu tem de sobra, por estar no meio da BR 319, apartada da civilização por lentas balsas e miríades de buracos de onde surgem caminhões de gelo a levar seu pescado, às vezes toneladas, chacoalhando, para a capital. 

Ficamos dois dias, muito pouco. Precisaríamos de mais tempo para conhecer o rio, a vegetação, os caminhos por onde passam as vidas do povo de Igapó-açu, animadas pelo vai e vem das águas, barcos e raros passantes, uns doidos, como costumam falar.

A sexta Roda de Passarinho foi compenetrada. As crianças conheciam muitas aves e também vários dos animais que apresentamos: puma, quati, tatu, serelepe. 

Envolveram-se na História do Rio das Furnas, da SPVS, Santa Catarina, canyons e serras, como num faz-de-conta. Afinal, estivemos ali tal e qual os personagens daquela estrada, sempre no rumo do nunca mais da distante civilização.

Seguimos viagem com um nó na garganta, ouvindo a choradeira do Gustavo, que, do colo da mãe, aos soluços, implorava ir com a gente. Então houve silêncio.

Seu Antonio disse: conheçam a Dona Maria do Vestidão que vive no km 300 com o marido, Seu João e o filho Ismael. Seu recanto é parada de pesquisadores e acolhida certa para viajantes, ao lado de um igapó onde banha-se de lindeza, transparência e frescor. 
Sucuri tinha, mas não apareceu. Ali percorremos um trecho de pura floresta amazônica na compenetrada companhia de Ismael e conhecemos a arte do equilíbrio em troncos roliços sobre igarapés. 

Dali fomos ao Seu Paulo - o guerreiro - Dona Graça e a filha Marilane de 3 anos, no km 350. Rio Novo.

Após dias de pescaria a alegria vem com o Tucunaré (Cichla spp). Foto Renato Rizzaro

Cachara (Pseudoplastystoma fasciatum). Foto Renato Rizzaro

Agrado para boto-cor-de-rosa querido do Seu Antonio. Foto: Renato Rizzaro
Projeto Pé-de-pincha preserva tracajás (Podocnemis unifilis) no Igapó-açu. Foto: Renato Rizzaro

Parte da família do Seu Antonio na sombra da mangueira. Foto Renato Rizzaro


Tudo acontece em função do rio. Foto Renato Rizzaro
Aqui a comunidade se reune. Foto Gabriela Giovanka
Aves do Pantanal vão parar no Amazonas. Foto Renato Rizzaro
Duas lindezas na Roda de Passarinho. Foto Renato Rizzaro


Aves são identificadas no poster do Pantanal. Foto Renato Rizzaro


A professora Neri e Seu Antonio do Boto juntos com a turma da escola. Foto Renato Rizzaro


Roda de Passarinho representada por uma aluna.


Sempre temos um cantinho para pousar com a Tokynha. Foto Renato Rizzaro
A balsa de Igapó-açu na BR319. Foto Gabriela Giovanka




Dona Maria e o filho Ismael. Pousada após Igapó-açu. Foto Renato Rizzaro






No Rio Novo paramos por dois dias junto do Seu Paulo, o guerreiro. Foto Renato Rizzaro

Banho só de igarapé. Foto Gabriela Giovanka

A antiga morada foi incendiada. Vida nova para a familia do Seu Paulo. Foto Renato Rizzaro




Ao atravessar a balsa de Manaus a Careiro, conhecemos o casal Neide e Gerson que nos convidaram para passar alguns dias em sua casa, na beira do rio Paraná-do-mamori. Foram dias maravilhosos antes de iniciarmos nossa jornada pela BR319.



Neide e Gerson à beira do rio Paraná-do-mamori. Foto Gabriela Giovanka


A ovelha Rebeca e a gansa Jolie, na casa de nossos anfitriões. Foto Renato Rizzaro



Gabriela ensina Neide a observar aves com binóculo: "Nunca tinha visto com tantos detalhes"



Navegando em boa companhia. Foto Gabriela Giovanka



Às margens do Paraná-do-mamori é possível encontrar floresta nativa. Foto Renato Rizzaro


Seu Roberval nos levou até o ninhal das Anhumas. Um sonho! Foto Renato Rizzaro



Espécie de lagarto arborícola com papo e sem rabo. Foto Renato Rizzaro


Seguimos pela BR319 até Humaitá. Foto Renato Rizzaro